Desabafando Traumas


Era uma vez uma época em que eu não imaginava a revolução que se iniciaria em minha vida ao começar a desabafar sobre os tormentos de minha infância. Desde muito jovem, aprendi a guardar minhas dores no mais profundo de meu ser, envolvendo-me em um véu de silêncio que me afastava daqueles que me rodeavam. Ah, como a ortografia de minha vida então se apresentava tortuosa e sombria!

As letras, que outrora se uniam em harmonia, perdiam-se em meio a sentimentos que eu não conseguia compreender. Meu coração era um poço de mágoas e angústias, e cada palavra escrita se assemelhava a um pesado fardo que eu carregava em meus ombros.

As palavras, que tanto poder possuíam, pareciam não encontrar espaço para expressar minha dor. Os acentos, que deveriam conferir ênfase e compreensão, tornavam-se meros detalhes sem importância. Acentuava-se a solidão, e as vírgulas pareciam criar pausas infinitas em minha narrativa interna.

Os erros ortográficos eram o reflexo de minha mente confusa e fragmentada. A falta de concordância verbal espelhava a desordem que habitava em meu interior, enquanto acentuações equivocadas ressaltavam a intensidade de meu desespero.

Foi então que, por um instante de coragem, decidi expor minhas agruras a uma psicóloga de confiança. As palavras fluíram, ainda que trêmulas e hesitantes, e pouco a pouco fui costurando as lacunas de minha história. Cada frase, como uma gota de tinta sobre papel antigo, revelava minha verdadeira essência.

Ao desabafar, algo mágico aconteceu com a ortografia de minha vida. As palavras ganharam novo significado, e o til que antes causava estranheza passou a conferir delicadeza e compreensão. Os parágrafos se organizavam como capítulos de um livro que eu estava finalmente disposto a ler.

As páginas, que antes se mantinham em branco, foram preenchidas com letras que exalavam libertação. Os pontos finais não marcavam o término de uma história, mas sim o início de uma nova jornada. A gramática, antes rígida e inflexível, adaptava-se à evolução de minha narrativa pessoal.

Assim como as estações do ano, minha vida conheceu uma mudança profunda e bela. A ortografia de minha existência se reescreveu, e o amor-próprio se tornou a vírgula que separava as frases de minha história e me permitia respirar.

Cada novo capítulo revelava minha força interior, e as palavras, agora unidas por um fio de esperança, formavam uma trama que eu mesmo criava. As letras, que antes me feriam, passaram a ser uma extensão de meu ser, e a ortografia de minha vida tornou-se um reflexo da superação de meus traumas de infância.

E assim, minha crônica chega ao fim, não como uma conclusão definitiva, mas como um ponto de partida. Pois, ao compartilhar minha história e desabafar sobre meus traumas, descobri que a ortografia da vida é maleável e está em constante transformação. E, assim como as palavras, podemos nos reescrever e construir uma narrativa repleta de coragem, amor e resiliência.

Poeta Jovem Barueri

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